Jambolada


1) A Salma, que é uma respeitadíssima psicoalgumacoisa daqui de Uberlândia (analista, óloga ou atra?), me puxou pelo braço, pediu pra chamar o Ricardim e solenemente nos disse: meninas, trabalho há anos com a saúde mental de crianças e adolescentes, e posso vos afirmar com certeza que o rock n’ roll salva vidas.
2) O Ari, professor de história em Abaeté-MG, fazia questão de expor em sala de aula sua revolta com o fato de terem espinhos os peixes, não as abóboras; de terem as mulheres os peitos na parte da frente, e não nas costas (“o abraço seria perfeito se atrás da menina eu encontrasse os peitos”); e com o equívoco dos intelectuais em seu desejo de empreender uma revolução por tiro ou canetada (“a revolução política tem que começar pela revolução das mentalidades, caralho”).
3) O cantor e compositor Fred Zero Quatro salve, no programa escombro, sobre fazer música no Recife: “se a gente não podia se mudar do Recife, ocorreu-nos então mudar o Recife”.
4) Precisa nem falar. Quem gosta de fumar maconha sabe que a vida melhorou depois do Planet Hemp.


Vem aí a Jambolada. Muito a propósito essa onda de chamar festival de nome de fruta. Manga a gente sabe que dá no fim de ano. Jaboticaba em setembro. Goiaba é verão. Festival é assim também, tem que dar uma certeza. Bananada em maio-abril. Grito Rock no carnaval. Calango no meio do ano. Mada – Música Alimento da Alma, no começo. Demo Sul no final. Noise na mesma chuva. Varadouro, Porão do Rock, Beradeiros, Madeira, Abril Pro Rock, Ruído, RecBeat, Primeiro Campeonato Mineiro de Surf são certezas para o ano que vem, assim como são o janeiro o fevereiro a goiaba e a jaboticaba. Nessa vida de poucas certezas, nada mais confortável que saber q sim, o pau vai quebrar:
5) Para quem tem sua banda, porque os festivais são uma concreta possibilidade de espalhar o trabalho Brazil-afora (polinização);
6) para quem curte cultura pop, novas informações, pessoas diferentes, sotaques diferentes, outras músicas, diferentes visões de mundo etc., porque uma banda de Londrina que venha tocar em Uberlândia traz um pouco do Paraná para a delícia dos mineiros.
7) para a rapaziada que tem programa de rádio ou podcast, ou que gosta de escrever resenhas, fazer entrevistas, manter blogs, cobrir eventos, já que festival é sempre um prato cheio e colorido;
8) pra quem tá afim de trocar figura, paquerar, beijar na boca, transar pra arrepender depois, arrumar casamento, queimar o filme, curtir uma balada.
9) pra quem faz camiseta, bijouteria, tatuagem, edita fanzines, vende espetinho, bombom de parafina etc, já que uma das coisas mais gostosas de festival é dar um rolé pela feirinha entre um show e outro lambendo os beiços com uma revistinha na mão;
10) pra quem tá ligado nessa onda de interferência sobre a sociedade, através da consolidação de um circuito em que livremente circulem novas informações estéticas, e que dê voz a trabalhos não incorporados às mídias tradicionais. A Salma e o Ari sabem que a música, o cinema, a linguagem, os signos repercutem com força dentro das pessoas, operando verdadeiras revoluções. (João Cabral de Melo Neto prefere dizer “poetas revolucionados” a “poetas revolucionários”).
Por essas e por outras, o pau está quebrando. Um festival é sempre florestal, carnaval. Pegue todos esses tópicos numerados 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 9) 10), e você terá irrefutáveis motivos para colher um festival. Batendo tudo no liquidificador, que suco dará? Quem já comeu jambolão sabe que ele deixa, por um bom tempo, um azul cor de noite na língua. Não sai com água nem com álcool.
(postado por danislau)

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